O CRIME DE TRAIÇÃO À PÁTRIA:

O CRIME DE TRAIÇÃO À PÁTRIA:

O Art.º-141.º Do Código Penal é simples e claro: "Será condenado na pena de prisão maior de vinte a vinte e quatro anos, todo o português que: 1.º intentar, por qualquer meio violento ou fraudulento ou com auxílio estrangeiro, separar da mãe-Pátria ou entregar a país estrangeiro todo ou parte do território português, ou por qualquer desses meios ofender ou puser em perigo a independência do País. 2.º Tomar armas, debaixo das bandeiras de uma nação estrangeira, contra a Pátria". Simples e claro como o juízo do nosso povo, quanto à forma como a Pátria foi mutilada.

¡ GILBERTO SANTOS E CASTRO !


TEN-COR. GILBERTO SANTOS E CASTRO, CO-FUNDADOR DOS COMANDOS.

"Estamos em Agosto de 1975. Um pequeno grupo de portugueses desembarca em Angola. Eram poucos.
Todos assistimos à maior mentira do século: a "independência" de Angola.
Qual Angola?
A que víramos próspera, virada ao futuro, na preocupação do bem estar das suas gentes, na riqueza da sua história, no valor da sua cultura, na
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grandeza e na dimensão do seu viver? Ou a que encontramos destruída, com os povos famintos a fugir de um lado a outro, para morrerem mais tarde? A que encontrámos em gritos de dor e pedindo a nossa ajuda, uma palavra de esperança, uma afirmação de que tudo era um pesadelo e de que voltariam à tranquilidade do seu viver?
Qual independência?
A que trouxe a Angola a ocupação colonial por um exército estrangeiro, em flagrante conquista militar, sem quaisquer laços que liguem o povo aos ocupantes, para além da anuência de uma minoria dirigente e totalitária e porque um governo, em Lisboa — provisório mas definitivamente irresponsável — o consentiu também? O que pensa realmente deste facto trágico o povo português e desgraçadamente o que pensará o povo de Angola?
Foi um grupo pequeno que se bateu contra isto tudo. Merecem por isso o respeito e a consideração de todos os portugueses. Por se terem batido e porque se bateram bem.
Alguns pagaram cara a sua dádiva. E quando no pequeno cemitério do Ambriz desceram à terra, com toda a população a assistir em religioso silêncio, com as honras devidas e cobertos com a Bandeira Portuguesa, repetia-se apenas o que ao longo dos séculos acontecera. Mais uma vez aquela terra
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acolhia generoso sangue português. Ali estivemos também, meditando e sentindo mais vontade para continuar.
A história deste livro, na simplicidade do relato de uma boa parte dos combates que tiveram de travar-se, dá bem conta do que foi essa luta. Não podemos, porém, deixar de recordar também com sentido respeito os que pelo sul de Angola e em combates de gigantes, libertaram sucessivamente Pereira de Eça, Sá da Bandeira, Moçâmedes e Lobito. Ali tombaram outros tantos, que recordamos com saudade e a maior veneração.
O relatar de uma guerra, na verdade dos factos e com humildade, é privilégio dos que sabem bater-se. É este o caso, na óptica de quem o soube fazer e fazer bem. A outra história, a dos bastidores da intriga política, ficará para ser contada oportunamente. Ela terá de ser contada um dia e sê-lo-á...
Fomos derrotados naquela batalha, mas vencidos ainda não.
Em Julho de 1975 os soldados cubanos começaram a desembarcar em Angola. Faltavam cinco meses para a independência estabelecida nos Acordos de Alvor, e o exército cubano, apoiado
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por material de guerra russo pesado e sofisticado (tanques e mísseis), começou a invadir Angola.
O povo português desconhecia em absoluto este facto, porque a Informação (imprensa, rádio e TV) "mais livre do mundo" simplesmente o ocultava. Aliás, em Julho de 75 tinha também começado no norte do país o célebre "Verão quente". O povo andava atarefado em travar a escalada comunista e tinha perfeita consciência de que se o conseguisse a tempo, Angola nunca cairia sob o domínio soviético. Mas o povo do norte foi traído pelas mesmas pessoas que traíram os angolanos. Não foi por acaso que o "25 de Novembro" só aconteceu depois de consumado o "11 de Novembro", data da entrega oficial de Angola à Rússia.
A primeira importância deste livro, escrito por três Comandos Especiais que tive o orgulho de comandar, é a de provar, com a simplicidade de uma prova visível e concreta, que o exército cubano invadiu Angola antes da independência. Eu próprio comandei os combates que os Comandos Especiais travaram contra os cubanos em Angola, durante os meses de Agosto, Setembro, Outubro e Novembro de 1975... Só na parte norte de Luanda, para "defender" a cidade, estacionavam seis batalhões cubanos completamente equipados, armados e municiados.
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Feita a prova desta terrível verdade, surge a segunda importância deste livro: — Quem autorizou ou quem facilitou a entrada dos cubanos? Quem constituía, nessa época, o Poder em Portugal? Presidente da República, Governo e Conselho da Revolução. Muitos membros-desses órgãos do Poder continuam hoje a ser governantes. Grande parte deles são os mesmos. Como é isto possível? Sobre os ombros desses homens pesa a responsabilidade da morte de milhares e milhares de homens, de mulheres e de crianças. Pesa ainda a gravíssima responsabilidade de terem impedido a libertação da nação angolana. Que povo pode ser livre, quando ocupado por um exército de 30.000 soldados estrangeiros?
Quem autorizou a entrada do exército cubano em Angola, quando o poder soberano ainda pertencia (e pertenceria durante vários meses) ao governo português?
Enquanto esta pergunta não for respondida, que importância podem ter os escândalos em que se envolvem altas figuras do regime e o que podem significar os delitos, os compromissos ou os compadrios que os levaram ao Poder?
Mas enquanto houver portugueses da raça destes Comandos Especiais que foram lutar contra os cubanos, aquela pergunta há-de ter uma resposta. Não se saberá quando, mas terá de ser dada
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às centenas de milhar de mortos, aos que perderam a dimensão de viver e aos que vagueiam apátridas e atónitos...
Visto à luz da História, os Comandos Especiais eram em número ridiculamente pequeno. Apenas um punhado de homens: pouco mais de uma centena e meia.
Vieram de todos os cantos do mundo. Alguns tinham já sido Comandos, ao tempo da sua vida de militares em Angola ou em Moçambique.
Vieram espontaneamente. Nada lhes foi oferecido, e eles nenhumas condições impuseram. Claramente lhes foi dito que os Comandos Especiais iriam apenas ser a resposta altiva dum punhado de portugueses à cobardia e à traição dos que entregavam a Pátria às potências estrangeiras.
Vieram por sua própria e livre iniciativa, na louca esperança de ainda salvar o nosso povo duma desonra afrontosa e de uma perda irreparável.
Logo no primeiro recrutamento surgiram aqueles que iriam constituir a mais extraordinária, a mais inconcebível, a mais desesperada força militar que alguma vez se propôs fazer frente ao
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império comunista: 156 homens dispondo de reduzidíssimo armamento, dependendo quase que exclusivamente de si próprios, pois o apoio logístico era praticamente inexistente. Estavam dispostos a enfrentar o MPLA comunista, mas não sabiam ainda que uma das mais poderosas máquinas político-militares do mundo iria lançar abertamente todo o seu peso na luta a favor do MPLA. Igualmente ignoravam que as autoridades portuguesas iriam dar cobertura aos comunistas.
Mas mesmo que o soubessem, na altura em que se dispuseram a lutar para defender Angola da estratégia soviética, isso não os faria recuar.
Na realidade a acção desse punhado de homens começou no Verão de 75. O "Verão Quente" de Angola.
Quando se verificaram os primeiros incidentes graves, em Maio/Junho de 75, em Luanda e nas áreas que impropriamente designaram como "zonas de influência", esses incidentes deram-se apenas entre os "movimentos de libertação", MPLA incluído.
A cruzada parecia fácil. Se os Comandos Especiais tivessem de enfrentar apenas o MPLA, as coisas teriam seguido um outro rumo: nunca os comunistas teriam tido a possibilidade de tomar conta de Angola.
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O Alto-Comissário que representava nessa altura o Governo Português em Angola teve uma acção claramente definida: de acordo com a letra e o espírito dos tratados, não concedeu nem concederia qualquer privilégio especial a nenhum dos três movimentos. Fixada a data da independência de Angola para 11 de Novembro, seriam até lá tratados em plena igualdade as três forças que entre si disputavam a supremacia em Angola. Mas essa correcta e imparcial acção contrariava os secretos desígnios dos chefes comunistas. O Alto-Comissário juntamente com o Comandante Militar, foram chamados de urgência a Lisboa. Em contra-partida, Rosa Coutinho foi para Luanda. Por curiosa coincidência, precisamente na altura em que eu próprio cheguei também a Angola. Estávamos em Agosto: exactamente no dia 5, desse ano de 1975.
A situação ali já não constituía segredo para ninguém: desde Junho que cubanos e russos mantinham, sem quaisquer preocupações de segredo, o seu Quartel-General em Luanda, na casa que fora do Administrador da Petrangol. Aí funcionava abertamente esse Quartel-General, com todas as secções e com todo o pessoal. Estávamos ainda en-
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tão sob o controle do governo português, esse mesmo governo que num tratado de cariz internacional acordara não dar nem permitir que fosse dada qualquer espécie de tratamento preferencial a nenhum dos três movimentos competidores.
No entanto os soldados cubanos desembarcavam em vagas cada vez maiores em Luanda, nesse Verão de 75. Todo o material de guerra que consigo traziam, ali desembarcou à vista de toda a gente.
Quando os desembarques começaram a ser feitos em massa, em meados de Agosto, passaram a ter lugar em Novo Redondo. E era às claras que diariamente rolavam as colunas militares de soldados e material cubano e russo, rumo a Luanda. Quanto ao MPLA, o movimento que servia de cobertura a essa clara invasão comunista, estava completamente subordinado ao Quartel-General cubano de Angola.
Quem poderia ignorar estes factos? Na realidade, ninguém. Nem em Angola nem mesmo nos países vizinhos. E muito menos o governo português, ou pelo menos o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares.
Foi na própria Emissora oficial de Angola — ainda sob a tutela de Portugal e das autoridades portuguesas — foi através da própria Emissora oficial que se fizeram constantes e insistentes
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apelos para que voluntários se apresentassem no cais para trabalhar na descarga desse material cubano e russo. E muitos foram os trabalhadores que acabaram por ser apanhados à força — brancos e negros — e obrigados a ir para o porto trabalhar forçadamente no desembarque desse material.
O facto dos Comandos Especiais terem lutado contra o MPLA — e contra os cubanos e russos que os apoiavam — ao lado de Holden Roberto, poderá levar a pensar que esse punhado de homens fazia parte da FNLA.
Não é verdade.
A FNLA serviu de ponto de apoio para esses homens, cujo único objectivo não era nem o da conquista de riqueza ou fortuna, nem sequer o de passageira glória. Era simplesmente o desejo de manter Angola como nação livre e sem interferências estrangeiras no caminho do seu progresso.
Os Comandos Especiais e eu próprio demos o nosso apoio à FNLA, por ser essa a via mais rápida para tentarmos deter a avalanche comunista que ameaçava ocupar Angola.
Foi esse o teor do acordo inicial com Holden Roberto a quem clara e iniludivelmente afirmei
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que nunca seriamos enquadrados nas fileiras da FNLA — com o que ele plenamente concordou.
De resto — e importa que se diga — Holden Roberto mal conhecia a realidade de Angola.
Para todos nós, para os que ali tínhamos nascido ou os que dali tinham feito a sua terra-mãe, era quase chocante ver o espanto que Holden demonstrava perante o progresso duma terra que ele tinha esperado encontrar primitiva e escravizada, árida e abandonada como a propaganda estrangeira proclamava. Como nota curiosa, posso revelar que perante uma barragem (das Mabubas) já colocada fora de uso por obsoleta e apta apenas a servir em curtos períodos de emergência de apoio à barragem (de Cambambe)que servia Luanda, vimos Holden abrir os olhos de espanto perante tão "extraordinária realização"...
Noutra ocasião, na Fazenda "Tentativa", Holden Roberto viu uma fábrica de açúcar também já ultrapassada por não ter capacidade de laboração para a matéria prima que ali se produzia e que por tal motivo estava para ser desmanchada. Era uma fábrica que eu conhecia desde menino. Pois Holden Roberto não escondeu o seu espanto perante a sua "grandiosidade"...
Talvez por tudo isso, e também porque ele podia verificar que muitos de nós conhecíamos Angola
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desde Cabinda ao Cunene e que todos amávamos aquela terra que queríamos que continuasse a ser também nossa, talvez por isso ele nos respeitava e nos dava todo o apoio que podia.
No entanto todo o esforço desesperado desses homens que quiseram defender Angola do inimigo soviético se perdeu.
Ingloriamente, diga-se. Por vil traição.
Tanto os angolanos como os portugueses acreditaram que os representantes do governo português honrariam os seus compromissos de imparcialidade tal como haviam sido assumidos em Alvor. Não o fizeram. É já um facto historicamente comprovado que o governo português apoiou, muito antes da data da independência, a invasão dos cubanos, checos, húngaros e russos em Angola, tal como aprovou e consentiu no estabelecimento de quartéis e na distribuição de armamento, desde o mais simples ao mais sofisticado, desde as armas ligeiras aos mísseis russos, os célebres "órgãos de Staline"...
Quem permitiu, quem sancionou, quem colaborou nessa monstruosa traição que veio a culminar na entrega de Angola e Moçambique ao colonialismo soviético?
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Muita gente me tem perguntado por que não entrámos em Luanda, quando a imprensa internacional chegou a noticiar que estávamos à vista da cidade do dia 10 de Novembro, precisamente no morro fronteiro ao Cacuaco. Este livro será uma resposta suficiente, embora muitos aspectos não possam ainda ser revelados.
Esses heróis que se chamaram Comandos Especiais fizeram tudo quanto puderam. Lutando com desespero contra o tempo, conseguiram de facto chegar à vista de Luanda antes da data da independência, levando de roldão à sua frente as sucessivas vagas de cubanos que se interpunham entre eles e a capital. Se a tivessem conseguido atingir antes do 11 de Novembro, tê-la-iam tomado, e não seriam as guarnições cubanas, inadaptadas para a guerrilha urbana, numa ci-dade que desconheciam e temiam, que o poderiam ter impedido.
Mas entraves de toda a ordem condicionaram a ofensiva sobre Luanda, desde o não consentimento de manobras de diversão ou alterações de frente, até ao atrasar sistemático do assalto à cidade na sequência da primeira arrancada que em 48 horas nos levou do Ambriz ao Caxito... para nos quedarmos mais de vinte dias sem gasolina.
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As pressões que se exerceram sobre Holden Roberto — constantemente mal esclarecido e enganado — no sentido de fazer coincidir o início do assalto com a véspera do dia marcado para a independência, funcionaram deliberadamente para que não entrássemos em Luanda. A artilharia abandonou as posições sem qualquer aviso e exactamente quanto mais dela carecíamos para o assalto ao Morro de Quifandongo o qual, uma vez tomado, abriria o caminho para a cidade em terreno plano e sem obstáculos.
Por tudo isto não ocupamos Luanda. Foi-nos retirado o apoio de fogo pesado dos dois obuses de 140, abandonados mais tarde em Ambrizete e transformados em massas de ferro inútil porque as suas guarnições — evacuadas de helicóptero — levaram as culatras...
Ali ficamos sob intenso fogo do inimigo. O barulho da onda de mísseis parecia uma terrível e contínua trovoada. Os Comandos Especiais ficaram colados ao terreno e impedidos de dar resposta.
Ali ficou só um punhado de Comandos Especiais no dia 10 de Novembro, véspera do dia fixado para a independência. Tudo havia retirado. Do nosso posto de observação sobranceiro à cidade que não havíamos podido alcançar, vi sair do porto
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de Luanda a fragata que levava as autoridades portuguesas.
Eram quatro horas e meia da tarde do dia 10 de Novembro de 1975.
Os Comandos Especiais olharam o silencioso afastamento daquela fragata que levava no convés apinhado de gente os últimos restos de uma presença de cinco séculos. As lágrimas de raiva e de impotência rolaram pelas faces dos Comandos que o sol de Angola curtira. A fragata lançou ferro no limite das águas costeiras e ali ficou parada até à meia noite. Num arremedo de macabra farsa, à meia noite em ponto, esse navio da Armada Portuguesa iluminou em arco e salvou a terra...
Depois, como que num silêncio de vergonha, fez-se ao largo".

Gilberto Santos e Castro.




                                      ¡ MEMÓRIAS VENERADAS DE OUTROS DIAS !

Soberbos monumentos do passado,
esplendores, relíquias frias ...
Donde a arte verteu as suas fantasias
donde a alma expressou as Glórias do teu passado
na tua bela História de outras idades lúcidas.
As ciências agrupadas em seus ombros te alçaram
ao mundo de olhos pasmados.
O Império que foste e que criações fizeste
foste pasmo e assombro das gentes.

Pátria minha... A lança que te feriu de morte
 foi tão rápida que pasma as nossas angustiadas mentes.
Vivemos anos de amarga traição
e amarguras tantas de servil humilhação!
Pátria desventurada levanta-te já 
da tua indolência extrema ...
Que é hora de redenção suprema!
Que o vão temor ganhe força ...
ao erguer das ruínas a bandeira das quinas
a bandeira verde-rubra, a bandeira da Nação !




Poema de, Rogéria Gillemans
¡ Registado no Ministério da cultura - Inspecção Geral das Actividades Culturais, I.G.A.C. – Processo N°3089/2009 !



Monumento aos Combatentes da Grande Guerra, tinha a seguinte inscrição 
"Portugal aos seus Combatentes europeus e africanos da Grande Guerra, 1914-1918". 
A escultura feminina representava a Pátria, os soldados os seus Valorosos Defensores.
(Monumento, também, conhecido como "Estátua da Maria da Fonte")