Sentindo o cálido vento...
Levantei meu rostro ao céu,
elevando minha alma...
Assim como meu pensamento!
Só necessitava meu alento...
Para sentir em meus pulmões
o brilho do firmamento!
Recolhi em minhas mãos a terra...
A mesma que pisara desde a minha infância!...
Não há falcão solitário!
Primeiro foi o alarde da vergonha,
E o tempo foi transformado num covil de ladrões!
Os ares, não são bons ares...
E a vida passou a ser p’ra eles um alvo de ocasiões!
Ainda algum "desses" perguntará:
"Porque cantam eles assim?"
- Cantamos assim,
porque a crueldade teve nome de traição!!!
Com nome de trágico destino! -
Cantamos assim pela infância,
e pelo tudo que era nosso!!!
Pelos afectos roubados!
E da nossa terra destroncados!
Pelos nossos povos massacrados!!!
Porque cantamos assim!?
- Se nós e os nossos ficamos sem abraço!!!
E estão morrendo de fome, de tristeza e de cansaço...
Porque o coração do homem se fez em caco
antes mesmo de explodir a vergonha!!!
Porque cantamos assim!?
- Se estamos longe como um horizonte!...
E lá!... ficaram as árvores, o sol, o céu,
e a alma em cada monte!
Se cada noite é sempre alguma ausência ...
E cada despertar um desencontro!
- Cantamos assim, porque o sol nos reconhece!
E lá!... nesse talo, e em fruto de árvore definhada,
a cada pergunta tem a sua resposta!!!
- E porque, os sobreviventes e os nossos mortos
querem que cantemos assim!!!
- Cantamos assim porque o grito só!... Já não basta!!!
E já não basta o pranto, nem a dor, e nem a raiva!!!
- Cantamos assim, porque o rio está soando...
E quando soa o rio as suas águas agitam-se em revoltas,
E soa o cântico de musas em trovas soltas!
Cantamos assim porque chove sobre o sulco...
E porque o campo cheira a primavera!
E traídos!!!... Somos os militantes desta vida!...
E porque não podemos!!! Nem queremos!!!
Deixar que a canção se transforme em cinza!
Poema de, Rogéria Gillemans.
¡Registado no Ministério da cultura - Inspecção Geral das Actividades Culturais, I.G.A.C. – Processo N°3089/2009!